Festa Junina: A barraca da pescaria de ideias
"O especismo surge, assim, como base legitimadora de toda sorte de opressão e crueldade em face de animais não-humanos. A humanidade, apoiada na falaciosa ideia de superioridade perante o restante dos habitantes da Terra, e utilizando-se de critérios arbitrários e egoísticos, elege quais seres são passíveis de consideração moral, condenando aqueles não abrangidos em sua esfera de afetividade à uma existência fundada na exploração e no sofrimento."
Fernanda Orsomarzo, Justificando
"Muitas escolas degradam a cultura popular brasileira ao fazerem simulacros
de “festas juninas”. Mesmo tendo em conta o imenso esforço feito pelas professoras
(semanas de ensaios!), as crianças são fantasiadas de caipiras (roupas
remendadas, dentes falhados, bigodes e costeletas horrorosas, chapéus
esgarçados, andar trôpego e espalhafatoso e um falar incorreto), como se os
trabalhadores rurais assim o fossem por gosto, ingênuos e palermas. Poucas
escolas explicam a origem das festas e a importância do cidadão campesino e
resguardam sua dignidade; poucas, ainda, destacam que a falha no dente
não é algo que aquele brasileiro ou aquela brasileira tem para ficar “engraçados”
(são desdentados por sofrimento), ou informam que eles produzem comida
e passam fome, como se fossem subumanos, não têm acesso à escola
etc. É, em grande parte, a ridicularização da miséria, cujo ápice é uma festa
na escola, com uma concorrida profusão de máquinas fotográficas e filmadoras
que se atropelam em busca de imagens caricatas."
Mário Sérgio Cortella - A Escola e o conhecimento (1998, p. 149-150)
Mário Sérgio Cortella - A Escola e o conhecimento (1998, p. 149-150)
No dia 16 de Junho aconteceu em nossa Unidade Escolar a Festa Junina. Recebemos a missão de criar uma barraca de pescaria que dialogasse com as nossas propostas. Pois bem, lá fomos nós...
A escolha foi na criação de um espaço onde a discussão sobre o especismo estivesse presente e, ainda, que não perpetuássemos a ridicularização da miséria e nem colaborássemos com a imagem caricata das pessoas que vivem na e da agricultura. Quebrando a lógica da pesca de animais como entretenimento, considerando que na realidade se trata de exploração e tortura. Quebrando a lógica da reprodução estereotipada sobre determinadas populações. Deixemos os peixes a nadar e pesquemos um pouco de amor, era a proposta.
Com mensagens, símbolos e principalmente o diálogo aberto quando se questionava o motivo pelo qual a pescaria não envolvia os peixes, tivemos um sábado bastante frio de inverno e cheio de diversão. Nas imagens abaixo vocês poderão ver da produção da barraca ao dia da festa em si.
Coletivo ERER+ reunido e mais uma vez trabalhando junto.
Nota: A água utilizada para festa foi posteriormente reutilizada para lavar o pátio da escola.
Fotos: Prof. T., Enzo Gomes e Felipe Mogari